segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

as nossas casas...


o célebre Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes (1906-1989),
que foi Bispo daquela Diocese 30 anos (1952-1982),
falava, ainda no tempo da outra senhora, (anos 50),
tão profética e abertamente,
da "miséria imerecida do mundo rural".
tal bizarria (entre outras) valeu a esse insigne Pastor
um exílio de 10 anos, (1959-1969) durante os quais,
sendo impedido de entrar no País
pelas autoridades autoritárias,
teve que permanecer por Roma, França e Espanha.

Começo com este dado histórico
relativo a uma personalidade incontornável
da história portuguesa do século passado,
para, com a devida reverência,
parafrasear tão ilustre inspirador,
falando eu da situação de
miséria imerecida das nossas construções mais genuínas e características,
tão abundantes (ainda) por todas as nossas aldeias trasmontanas,
e a que já me referi noutras ocasiões.
porquê?
porquê esta miséria?
porquê este abandono e desprezo completo?
não são estas construções singelas e belas o nosso património cultural também?
porquê este desprezo e esquecimento?

servirá isto para despertar algumas consciências?...

Deixo, por fim, um poema diferente.
diferente porque fala a nossa linguagem.
diz-nos respeito.
fala dos sentimentos e mundividência dos nossos antepassados
por estas terras de Tràs-os-Montes.
o autor é A. M. Pires Cabral,
natural de Chacim, Macedo de Cavaleiros,
a viver em Vila Real, onde o conheci nos meus tempos de Liceu.
em tempo de Advento e de uma crise generalizada e tão propalada,
saboreiem:



                         A CASA

                         Casa em que caibas; terra quanta vejas.
                                                    De um provérbio do Nordeste

                 Casa em que caibas - não é preciso mais.
                 Teus sonhos são à medida do teu corpo.
                
                 Casa em que caibas: espaço calculado
                 para os teus impulsos de comer, dormir, amar.
                 o mundo é um WC amplo e estrelado.
                 A casa quer-se pequena para não estorvar

                 Casa em que caibas: a lareira,
                 a mesa de pinho, os bancos, as gamelas,
                 a cama, a arca, o cântaro, a caldeira.
                 Os teus olhos te bastem por janelas.

                 Casa em que caibas.
                 Terra quanta vejas.
                 (Meu exagerado engolidor de labaredas...)
                 Acrescenta: esperança quanta saibas.




P.S. Conselho: quem ainda não conhece, faça por conhecer as duas personalidades cujos nomes destaco.

1 comentário:

  1. Caro Padre Jorge,
    belíssimo post! A nossa casa tem de merecer mais respeito.
    Quanto às 2 personalidades: uma vénia!
    abs

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