quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

em fim de ano...





e agora?
acabou o caminho?
em frente?
à esquerda?
à direita?

temos, graças a Deus, o livre arbítrio.
não deixemos que nenhuma crise nos impeça.
o futuro é nosso.
o amanhã será aquilo que nós quisermos.

bom ano!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

cantata de Natal


 foi esta noite, na igreja de Vilarandelo


 sob a orientação do Maestro Francisco Doutel, nosso conterrâneo


apresentada esta cantata de Natal, onde se cruzaram as narrativas da Sagrada Escritura com as cantigas simples do Natal (tão distante!) da nossa infância, a solenidade do Magnificat
e a cadência dos nossos trasmontanos cantares das segadas e do primo cante alentejano.
que mais nos aproximou do mistério de Deus feito Menino!

afinal é este o encanto do Natal de Jesus.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

a matança...

porque é tempo, aí vai. da autoria do nosso A. M. Pires Cabral


A MATANÇA

Não penses
que a carne apenas é aquela oca
lívida carcassa
em imóvel galope alucinado,
embarrada numa trave da adega.

Não penses
que o milagre anual da salgadeira
vem sem morte e sem trabalhos. Não:

Contar-te-ei
que primeiro atam o porco em sua loja
com uma corda em torno do focinho
e o arrastam à força para o ar lavado e frio.

Contar-te-ei
que o porco luta e resiste: ora sentado
sobre os quartos traseiros (os futuros presuntos),
ora comicamente no solo as quatro patas
fincando com bravura se defende
da mal-agourada violação. Por fim, cedendo,
colocam-no, ainda contrafeito,
entre roncos, bufos e sacões,
no banco, deitado sobre o lado,
por forma a expor o vulnerável,
comestível coração.

Contar-te-ei
que quando a faca penetra nas entranhas,
qual punhal vingador de antiga fome,
o grito é tal, tão desolado e aflito,
tão humano, tão digno de compaixão,
tão de criatura insultada e indefesa -
que tenho de tapar a mãos ambas os ouvidos
e recuar para os fundos da casa,
onde o rumor mal chague. Ainda assim,
a voz implorativa é uma cascata,
uma cascata lenta e descendente,
em que o animal se esvai.
Quando calado - o sangue
jorrando impetuoso no alguidar -
é sinal que
          o porco é morto:
                                    viva o porco!



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

8 de Dezembro: Imaculada Conceição da Virgem Maria


                                                  É doutrina cristã, solenemente proclamada - seguindo e respeitando o sentimento geral do povo cristão desde sempre -  pelo Papa Pio XI em 8 de Dezembro de 1854, que a Virgem Maria, em virtude da sua função futura de vir a ser a mãe de Jesus (= Mãe de Deus), foi preservada do pecado original desde o momento da sua concepção (ou conceição) no seio de Santa Ana.

hoje celebramos este privilégio de Maria.

esta invocação da Mãe de Jesus como Senhora da Conceição
 é daquelas que mais eco encontram e sempre encontraram
no coração e no afecto do povo cristão, não só em Portugal.

no entanto Ela é de facto, Padroeira de Portugal,
este país que, desde a sua fundação se apresentou como Terra de Santa Maria.
esta nomeação (padroeira, madrinha) e a devoção à Senhora da Conceição foi oficializada
pelo nosso Rei D. João IV em 1646,
depois da restauração do nosso País como nação independente,
quando aquele Rei declarou a Senhora da Conceição Padroeira de Portugal,
e acrescentou:

         "... e prometemos e juramos com o Príncipe e Estados de confessar e defender sempre (até dar a vida, sendo necessário) que a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi concebida sem pecado original." 

interessante é notar que no ano de 1954, para celebrar os 100 anos do Dogma da Imaculada Conceição foram colocados no exterior de muitas das nossas igrejas uns azulejos, dizendo:
A Virgem Maria, Senhora Nossa,
foi concebida sem pecado original.

já agora fica o convite a estarem atentos a esse detalhe na frontaria dalgumas igrejas do nosso concelho (Fornos do Pinhal, Sonim, Carrazedo de Montenegro, entre outas possíveis) 





7 de Dezembro: Santo Ambrósio de Milão



é dia de Santo Ambrósio.
sim, o daquele santuário conhecido perto de Macedo de Cavaleiros.
mas ele não era de Macedo...
eis alguns dados biográficos:

nasceu em 339, portanto, viveu no século IV, imaginem...
movimentou-se em territórios hoje constitutivos da França e da Itália.
depois de ter desempenhado diversos cargos públicos,
ele, que era filho de um governador romano da Gália,
foi aclamado Bispo de Milão, no Norte de Itália, por uma criança,
seguida imediatamente por toda a voz popular.
e assim se tornou bispo.
isto em 7 de Dezembro de 374.

exerceu o seu múnus com firmeza, eloquência, caridade pelos pobres,
 coragem e sensibilidade artística (foi um excelente poeta).

um episódio muito interessante da sua vida e acção,
que nos revela a têmpera deste homem,
aconteceu no ano 390:
o Bispo Ambrósio, à porta da Igreja de Milão,
proibiu o Imperador Teodósio (de quem era conselheiro) de entrar na igreja
e obrigou-o a fazer penitência pública durante longo tempo,
por causa do massacre geral que este havia ordenado
contra o povo da cidade de Tessalónica.
(a imagem anexa representa esse facto).

morreu no ano 397.

é considerado um dos quatro grandes Doutores da Igreja do Ocidente
(Ambrósio, Jerónimo, Agostinho e Gregório Magno)




segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

as nossas casas...


o célebre Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes (1906-1989),
que foi Bispo daquela Diocese 30 anos (1952-1982),
falava, ainda no tempo da outra senhora, (anos 50),
tão profética e abertamente,
da "miséria imerecida do mundo rural".
tal bizarria (entre outras) valeu a esse insigne Pastor
um exílio de 10 anos, (1959-1969) durante os quais,
sendo impedido de entrar no País
pelas autoridades autoritárias,
teve que permanecer por Roma, França e Espanha.

Começo com este dado histórico
relativo a uma personalidade incontornável
da história portuguesa do século passado,
para, com a devida reverência,
parafrasear tão ilustre inspirador,
falando eu da situação de
miséria imerecida das nossas construções mais genuínas e características,
tão abundantes (ainda) por todas as nossas aldeias trasmontanas,
e a que já me referi noutras ocasiões.
porquê?
porquê esta miséria?
porquê este abandono e desprezo completo?
não são estas construções singelas e belas o nosso património cultural também?
porquê este desprezo e esquecimento?

servirá isto para despertar algumas consciências?...

Deixo, por fim, um poema diferente.
diferente porque fala a nossa linguagem.
diz-nos respeito.
fala dos sentimentos e mundividência dos nossos antepassados
por estas terras de Tràs-os-Montes.
o autor é A. M. Pires Cabral,
natural de Chacim, Macedo de Cavaleiros,
a viver em Vila Real, onde o conheci nos meus tempos de Liceu.
em tempo de Advento e de uma crise generalizada e tão propalada,
saboreiem:



                         A CASA

                         Casa em que caibas; terra quanta vejas.
                                                    De um provérbio do Nordeste

                 Casa em que caibas - não é preciso mais.
                 Teus sonhos são à medida do teu corpo.
                
                 Casa em que caibas: espaço calculado
                 para os teus impulsos de comer, dormir, amar.
                 o mundo é um WC amplo e estrelado.
                 A casa quer-se pequena para não estorvar

                 Casa em que caibas: a lareira,
                 a mesa de pinho, os bancos, as gamelas,
                 a cama, a arca, o cântaro, a caldeira.
                 Os teus olhos te bastem por janelas.

                 Casa em que caibas.
                 Terra quanta vejas.
                 (Meu exagerado engolidor de labaredas...)
                 Acrescenta: esperança quanta saibas.




P.S. Conselho: quem ainda não conhece, faça por conhecer as duas personalidades cujos nomes destaco.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Balada da neve

 




Batem leve, levemente,
como quem chama por mim...
será chuva? será gente?
gente não é certamente
e a chuva não bate assim...


é talvez aventania;
mas há pouco, ha poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...





quem bate assim levemente,
com tão estranha leveza
que mal se ouve, mal se sente?
não é chuva, nem é gente,
nem é vento, com certeza.


fui ver. a neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
-há quanto tempo a não via!
e que saudades, Deus meu!





olho-a através da vidraça.
pôs tudo da cor do linho.
passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...


Augusto Gil