quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Balada da neve

 




Batem leve, levemente,
como quem chama por mim...
será chuva? será gente?
gente não é certamente
e a chuva não bate assim...


é talvez aventania;
mas há pouco, ha poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...





quem bate assim levemente,
com tão estranha leveza
que mal se ouve, mal se sente?
não é chuva, nem é gente,
nem é vento, com certeza.


fui ver. a neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
-há quanto tempo a não via!
e que saudades, Deus meu!





olho-a através da vidraça.
pôs tudo da cor do linho.
passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...


Augusto Gil

2 comentários:

  1. Posso completar?

    ...Fico olhando esses sinais
    da pobre gente que avança,
    e noto, por entre os mais,
    os traços miniaturais
    duns pezitos de criança...

    E descalcinhos, doridos...
    a neve deixa inda vê-los,
    primeiro, bem definidos,
    depois, em sulcos compridos,
    porque não podia erguê-los!...

    Que quem já é pecador
    sofra tormentos, enfim!
    Mas as crianças, Senhor,
    porque lhes dais tanta dor?!...
    Porque padecem assim?!...

    E uma infinita tristeza,
    uma funda turbação
    entra em mim, fica em mim presa.
    Cai neve na Natureza
    – e cai no meu coração.

    Linda esta "Balada da Neve" de Augusto Gil, poeta nascido na Guarda.

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  2. Sim Senhor! Nascido na minha na capital do distrito onde vivi passei os meus tempos da Secundária.

    Batem leve, levemente,
    como quem chama por mim...
    será chuva? será gente?
    gente não é certamente
    e a chuva não bate assim...


    é talvez aventania;
    mas há pouco, ha poucochinho,
    nem uma agulha bulia
    na quieta melancolia
    dos pinheiros do caminho...

    ... fui ver. Ôlha
    Era mê prim'Octávio!
    Eles é que me enganaram
    na tipografia.

    Herman José, parafraseando Augusto Gil.

    Peço desculpa pela brincadeira!

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