domingo, 11 de novembro de 2018

...quantas rendas aí vão!...

“Quantas rendas aí vão,
Quantos brancos colarinhos!
Que são bocados de pão
roubados aos pobrezinhos.” 
( António Aleixo)

Eu não sei se Aleixo tinha ou não razão, ao escrever isto no início do século passado. Mas sei que estava completamente de acordo com o Evangelho e com a doutrina social da Igreja que, num dos seus princípios fundamentais,  afirma o destino universal dos bens. Sabemos todos, por estar comprovado por dados e estudos bem conhecidos, que os bens e recursos disponíveis no mundo são suficientes para que todos os seres humanos vivam dignamente. Sabemos igualmente, porque se trata de dados factuais e históricos, que anualmente morrem de fome ou com problemas relacionados com a subnutrição, milhares (ou milhões) de pessoas. Como se compreende isto?! Pelo facto , também provado e comprovado, de dois terços da riqueza mundial estar nas mãos duma pequena percentagem de pessoas, ao mesmo tempo que uma larga maioria de seres humanos padece necessidades, vivendo abaixo (muito) do limiar da pobreza, em necessidade extrema. 
Então é evidente que Aleixo hoje, desgraçadamente, tem razão. Os luxos, os “brancos colarinhos” que para aí vão, são realmente “bocados de pão roubados aos pobrezinhos”. Roubados! Sim. Roubados! Existe uma deficiência muito grave na distribuição das riquezas no mundo! E tudo isto para nossa infinita vergonha. Porque na realidade, continuamos a viver no nosso conforto, na sociedade do bem-estar e do desperdício, envolvidos nesta economia que mata, como afirmou há anos o Papa Francisco: “esta economia mata!”.  Sim mata gente todos os dias, milhares ou milhões cada ano. E temos recursos para todos vivermos dignamente. Indigna humanidade esta que somos hoje!!! Indigna, suja e maldita! 
A Igreja recebeu o encargo dos pobres. Jesus, no decorrer da última ceia, deixou como que a última recomendação aos seus discípulos: “pauperes semper habete vobiscum!”: tende sempre os pobres convosco! Foi o que Jesus recomendou aos seus discípulos antes de morrer.  “Estai sempre ao lado dos pobres/com os pobres!”  Como é que nós, Igreja do século XXI, estamos a cuidar dos pobres?Estamos a cumprir o mandato do nosso Mestre e único  Senhor?
Não duvidemos que a vitalidade da Igreja de Jesus Cristo se verifica pela forma como ela trata os pobres. Sim, pelo lugar que nela têm os pobres. Quanto mais pobre e para os pobres, mais e melhor Igreja de Cristo seremos. 

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